Será que daqui a 10 anos a pessoa que você será nesse futuro terá vergonha do que você é hoje?

"Mas, hey, mãe!
Alguma coisa ficou pra trás.
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer" 




Fiz essa pergunta a mim mesma esses dias. Estava refletindo sobre meu passado, talvez você leitor imagine que a "quantidade" de passado eu tenha não seja muitos. Daqui a pouquíssimo tempo esse texto fará parte de um passado. Mas o passado não é um calculo, é uma percepção e só o aqui e o agora poderão dizer e estabelecer quem ele é.
Passei parte da minha adolescência me criticando e me colocando abaixo dos demais, tinha uma franja lisa, cabelo cacheado sempre amarrado, lápis escuro nos olhos, nada na boca e no conjunto uma cara triste. Hoje olho e sinto vergonha, não somente da minha aparência, mas pelo o fato que um dia eu não gostava de mim como era, vergonha de ter perdido tanto tempo tentando me enquadrar em padrões.
Me olhei no espelho e no fim concluir que na verdade não sentia vergonha da minha aparência. Ter o cabelo de um jeito ou de outro, vestir uma roupa seja ela qual fosse não era uma obrigação que eu tinha. Era a minha vontade e disso não deveria ter vergonha, eu queria estar daquela forma. Minhas atitudes também condiziam com o que eu era e queria naquele momento, não posso ter vergonha do que era por que hoje eu sou diferente.
Mesmo pensando assim acreditei por um breve momento que eu daqui a 10 anos sentiria vergonha do que sou hoje. Não da aparência mas da personalidade que carrego e dos defeitos que não modifiquei. Dos mesmos medos, da inferioridade que me sinto perante os demais; coisas que eu deveria ter modificado durante o tempo mas que não se modificou.
Talvez a minha vergonha esteja em não ter se modificado, em, embora tanto tempo, eu ter continuado com as mesmas posturas só com uma carapuça diferente.
Daqui a 10 anos talvez eu sinta vergonha de mim, é provável. Sempre comparamos nosso hoje com o nosso passado, nunca o entendemos como algo que se foi e algumas vezes merece ser lembrado. Sempre nos julgamos no passado e hoje [e daqui pra frente] é o que realmente esquecemos. Daqui a 10 anos terei outra consciência, outro modo de vida; amigos passaram, serão esquecidos e eu.. Eu talvez continue não tendo a mínima ideia do que fazer.



Seu erro fundamental é lembrar em vez de recordar. 
Há uma diferença entre lembrar e recordar; 
recordar é reviver, lembrar é apenas saber. 
O que é recordado fica, o que é lembrado é também esquecido.

O Encontro Marcado – Fernando Sabino

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