Ela
não agia como as demais. Se sentia triste, sozinha como se ninguém a
entendesse, como se não tivesse voz. Todos pareciam viver muito bem nas
condições que tinham. Alguns viviam muito bem sendo arraigados à terra ou de
folha em folha, de árvore em árvore ou num canto qualquer, mas ela não se
sentia muito bem com isso.
Estava
cansada.
Cansada da única cor em sua vida, cansada em questionar qual seria o seu fim e não ter
nenhuma resposta ou simplesmente: -não pense nisso. Cansada da monotonia que
tornou sua vida presa ao chão.

Mas
não sabia como se modificar, como se tornar outro ser, ser como eles. Enquanto
isso, se revoltava. Não sabia que a criou, com que proposito existia, mas, se
houvesse alguém por trás disso tudo, ele era injusto, cruel. Criou uns melhores
que outros e isso era injusto.
Certo
tempo começou a se senti muito cansada, querendo dormir por horas. Porem,
hesitava, buscava objetivos, outros objetivos, qualquer objetivo para por em
pratica, pois temia seu fim e não queria acabar como nasceu, sem nunca ter se
modificado. Sendo aquele ser arraigado, precipitado, ignorado e ignorante sobre
a vida e a existência, questionador, intrigado e sem nenhuma resposta.
Nenhuma.
Quando
percebeu que não poderia adiantar mais tempo o sono, parou no melhor canto de
sua humilde casa e se viu envolta e uma casca. Uma casca rígida, feia. Chorou.
Nasceu se saber quem era, pra que existia e agora morreria com as mesmas duvidas
e envolta de algo ruim. Quem a criou não poderia ter dado um pior fim. E com
esses sentimentos, adormeceu.
Acordou.
Abriu
os olhos mas tudo estava escuro demais, ela não conseguia se mexer. Ao tentar
mover seus pequenos e diferentes braços percebeu que fizera um buraco na casca
que a envolvia, assim, viu que tinha força o suficiente para quebrar tudo e se
libertar.
Ao
terminar, começou a reparar onde estava. Sem muito equilíbrio percebeu que
estava em algo, algo estranho, porém, muito familiar. Foi se arrastando até o
ponto luminoso. Como tudo era tão claro para seus pequenos olhos. Depois de se
acostumar com a claridade foi descobrindo formas, cores, sentindo aromas
diferentes e tudo começou a encantá-la.
- que belo mundo! Disse, mas não sabia que
mundo era aquele e nem como fora parar ali, apesar de tudo parecer-lhe
semelhante esse pequeno questionamento a empoderou, mas se fez esquecer
daquilo, havia coisas, formas, sabores e cores novos pra se preocupar, com toda
a certeza o futuro a diria quem era e o que estaria ali.
Verificou
de todas as formas como sair daquele lar que estava. Não se conhecia, não sabia
como fora parar ali. “Tem algum objetivo, tem”, pensou. Foi nesse instante que
reparou em algo diferente em suas costas. Asas.
-
mas eu nunca tive algo parecido no meu corpo... ou tinha?
Como
poderia saber, acordara em plena primavera sem saber o que era a estação. Não
sabia da onde
vinha ou para onde iria e nem o que era aquela parte inofensiva
de seu corpo. Ficou parada tentando de todas as maneiras analisá-la para, quem
sabe, deduzir para que exatamente servia. Quando já não tinha respostas, tornou
a observar o mundo do lado de fora até que identificou seres como ela, que
usavam aquele pequeno membro em movimentos rápidos e ao mesmo tempo suaves e
flutuavam pelo céu, por entre o colorido. Engolindo todo o medo, todo receio,
saltou de onde se encontrava e elas funcionaram.
Estava
flutuando, leve e tranquila. Sua vida era bela, aproveitou o primeiro voo e foi
o mais longe e o mais alto que podia. Sentiu-se como aquilo fora o que mais
desejara em toda a vida, onde toda sua luta era exatamente para viver aquele
momento. Não entendia, como poderia entender isso?
Aos
poucos a sua vida foi se adequando. De voos intensos, alturas inimagináveis que
todos se surpreendiam, de amigos incríveis que a admirava, de cheiros, sabores,
cores incríveis, a sua vida passou a ser
uma rotina. Ir de flor em flor, folha em folha, voando para um lado e para o
outro. Sempre tinha que voar. Os amigos já tinham os mesmos assuntos, os
cheiros não eram todos tão bons assim, os sabores já não tinham tanta graça e
as cores não tinham tanta vida.
Se
pegava olhando para a terra, aos seres que lá viviam e que ela não tinha
contato. Uma saudade imensa e uma enorme dor em seu peito toma conta de seu
pequeno corpo e a transtornava, por que, no fundo, não compreendia. Começou a
questionar o sentido de sua existência, seria somente aquilo? Rotina presa, os
mesmos assuntos, as mesmas cores. Não teria ela que sair dali, ir para outros
rumos?
A
saudade inexplicável e a tristeza foram formando seu lugar, já não era a mesma.
Seus amigos a contaram suas velhas historias e de como todos sairiam para um
lugar diferente, todavia, a única coisa que pensava era o sentindo de existir.
E isso ninguém respondia.
Aos
poucos os amigos se afastaram, não queriam essas preocupações. As flores murcharam,
as cores sumiram, os sabores aguaram e ela ficou imóvel suportando o frio
externo e interno. Em seu ultimo momento, aquele em que todos pensam e a vida
passa em segundos, percebeu que havia um buraco na história. Alguma informação
oculta que remetia ao seu surgimento. Com dor, olhou pela ultima vez a terra
embaixo de si, e pensou como poderia ter sido feliz lá embaixo, de folha em
folha, de arvore em arvore, com paciência e sem essa agitação toda que viveu.
Talvez teria sido fácil, talvez as coisas seriam simples de entender, poderia
levar uma vida simples e sem muitos questionamentos.
adormeceu, dessa vez sem retornar.
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