Crônica: N

                Como de costume colocou suas músicas favoritas assim que acordou, escovou os dentes
, fingiu que arrumou o cabelo, “quanto mais volume melhor”, enquanto fazia café para despertar, pois fazia tudo isso meio dormindo.
                Musica direcionava sua vida e assim como em novelas e filmes, ela tinha sua própria trilha sonora. Tomou um café da manhã, um biscoito que estava aberto há umas três semanas, e saiu. Na porta do elevador encontrou uma das pessoas que mais lhe causa mistério, “ele é lindo, não posso negar isso nunca”, pensou.
                Todos os dias o pintava de várias formas, era como se ele fosse um quadro onde ela poderia jogar tintas coloridas e dizer quem ele era, sempre de acordo com o seu humor. Possuía algumas informações a respeito daquele homem, sabia que ele escrevia musicas e era bem afinado, tocava violão, fazia poesia e não abria mão de uma garrafa de uísque, sempre o encontrava com uma garrafa novinha nas mãos.
                Seguiu caminhando, deixou as musicas no aleatório para ver o que dava, naquele dia não estava entendendo muito bem seus sentimentos, acordou com um misto de coisas indecifráveis devido a situações que vinham acontecendo na sua vida.
                “será que ele me amaria?”
                Sua cabeça era um misto de imagens que iam e vinham e formavam historias inteira, sempre imaginou que aquele seu vizinho de prédio poderia em determinado momento declarar seu amor por ela, como em filmes. Já tinha visto essa imagem em sua cabeça inúmera vezes, ele puxaria conversa sobre uma coisa boba no elevador algo sobre o clima ou como era estranho andar no elevador, diria que sempre a observava e que de algum modo estava atraído por ela, mas não importava isso não aconteceria.
Apesar das informações adquiridas a partir de observações, não sabia o nome dele e, sinceramente, ele mal a olhava, sempre estava com um ar de superioridade e que não queria nenhum tipo de conversa, “talvez ele fique perdido em pensamentos como eu”.
                Geralmente esses pensamentos não influenciava seu dia, mas aquele era diferente. Na noite anterior teve uma triste noticia e seu efeito ainda não tinha passado naquela manhã. “Por que ele mentiu pra mim? Por que ele fez isso?” pensou enquanto lágrimas vinham em seus olhos, “não, vou me permitir chorar. Hoje eu posso”.
                Há algum tempo tinha conhecido um homem, ele era lindo e não somente de aparência, ao menos era isso que pareceu no inicio. Pensou que era o cara certo, aqueles que você encontra uma vez na vida e é amor no primeiro olhar, no primeiro sorriso, que nem novela.
                Ele era envolvente, a levou a lugares incríveis, musica boa, até no teatro. Contudo, era um cafajeste. Depois de estar inteiramente encantada ela descobriu que ele tinha uma namorada, que a enganava e enganava a outra.
                “fui uma idiota, ficar acreditando em amor a primeira vista deu nisso”
                O pior de tudo foi a cara de sarcasmo dele. Quando ela descobriu e perguntou a ele se era verdade, se ao menos gostava dela, ele ironicamente, simplesmente sorriu e disse: “vai dizer que você se apaixonou por mim? Ficou besta?” Ela se sentiu engana, traída. Acreditou realmente que tinha encontrado seu príncipe encantado, que poderia pensar em casamento, vida construída, casa, cachorro e filhos.
                Chegou a seu destino com os olhos inchados e uma única certeza: “amor à primeira vista não existe, não adianta sonhar com pessoas declarando seu amor de uma hora pra outra, ou que encontra esse amor em qualquer pessoa que sorrir. Eu fui uma tola”.
                Enxugou as lágrimas, respirou fundo. Pela primeira vez, em todas as suas pinturas a respeito do vizinho, sentiu raiva dele. Raiva por ele ser um idiota, incapaz de emanar qualquer sorriso de bom dia. Sentiu raiva de si por ser louca, crédula, que imagina além de viver. Teve raiva de tudo, e alguma coisa mudou em si.
“não quero sentir amor... não mais, não hoje”


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