
- Posso sentar?
Levou
um susto, ao seu lado um dos homens mais lindo falava com ela, tirou a mochila
que ocupava o assento ao lado, tentou disfarçar o sorriso bobo, mas antes de
voltar para sua típica janela, o rapaz continuou;
- Você saberia me
informar as horas?
Sorriu.
Ele sorriu de volta. Se permitiu ficar assim durante alguns minutos.
- Ah, as horas! Ok,
ok.. só um momento. Eu sempre perco o celular nas minhas coisas, não sei por
quê. Ah! Aqui! São oito e meia.
- Não, na verdade são
seis horas.
- Seis? Sim! Seis...
Eu sou a única pessoa no mundo que se confunde vendo horas no celular.
- HA! HA! HA! – o rapaz sorrio alto – deve ser
sim, mas se te ajuda... Bem... não sei como te ajudar.
Sorriram.
- Então, para que
caminho segues? – perguntou.
- Na vida ou nesse
ônibus?
- Boa, pelo visto
eres uma filosofa... Os dois.
- Na vida não tenho a
mínima ideia, estou terminando a faculdade, não tenho emprego, não sei o que
farei daqui pra frente ou pior, como farei. No ônibus, sigo para meu curso. E
você?
- Bem, na vida estar
tudo meio endireitado. Tenho emprego, tenho alguns cursos, estou fazendo
outros, tenho um carro que por algum motivo quebrou justamente hoje, veja bem,
não estou reclamando. No ônibus, estou indo para casa.
- Está bem então.
- Sim. Você tem um sorriso muito bonito.
- rsrs obrigada! Você
que é bonito, quer dizer... – começou a gaguejar de tão nervosa que ficou.
- ok, sem problema. Estou
chegando no meu ponto, você poderia me passar seu numero para que eu fique
sabendo como estar sua vida, né?
Ela
sorriu, percebeu que não sabia o nome dele. Trocaram telefones, disseram seus
nomes e se encontraram no dia seguinte para um almoço. Conversaram sobre as
bandas favoritas, comidas que mais gostavam, o porquê de ter cores favoritas,
falaram sobre a vida, sobre as coisas, sobre o tripé de assunto proibido: time
de futebol, política e religião. Conversaram sobre tudo e nem viam a hora
passar. Era lindo estar com ele, tudo era tão bem, tudo era tão perfeito. Se
encontraram outras vezes, saíram para dançar, para cantar, para tocar violão,
guitarra, teclado.
Ele
foi a primeira pessoa que não debochou pelo fato dela compor musicas e escrever
poesias e foi a primeira pessoa com quem teve coragem de demonstrar o que
escrevia. Mostrou seus cadernos, recitou seus poemas favoritos e ele ouvia, se
encantava e buscava poesias para mostra-la.
Ele
falava de culturas que ela não conhecia, ele se importava com a beleza do
coração. Não julgava sua forma de vestir, a forma atrapalhada com que falava.
Elogiava seu cabelo, não ligava para seu peso ao contrário de todos que já
havia conhecido.
Era
perfeito por que ele era imperfeito e entendia suas imperfeições. Sabia que
eram de mundos diferentes, que faziam coisas diferentes, porém, existia um
mundo só deles, onde ser eles mesmos era mais importante do que fazer com que
um aceitasse o outro ou se modificasse só para a sociedade ver. Eles se
entendiam, tinha a mesma essência em busca de conhecimento, convívio, do
respeito ao próximo.
- Você é a garota
mais incrível que eu conheci na vida... não sei o que seria de mim sem você...
Sorriu,
só sabia sorrir perto dele e provavelmente teria aprendido a sorrir depois de
conhecê-lo.
- Na verdade –
continuou dizendo - acho que a gente deveria namor...
- Moça, moça!
- Oi – reparou no
cobrador que cutucava seu braço – sim, diga..
- Acho que sua parada
já passou, você estava tão concentrada na janela que nem reparou.
Não
disse nada, desceu e chegou atrasada no curso.
Instagram: @smribeiro21
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