Crônica: Do I Wanna Know?

Ela estava sentada na sacada do prédio, um cigarro na mão, Arctic Monkeys na trilha sonora e no coração o calor do deserto se fazendo presente. Não tinha lágrimas, mas queria ter... Alguma coisa dizia que deveria ter ficado triste, que deveria ter se revoltado ou qualquer coisa do tipo, mas seu coração estava pleno, tranquilo, vivendo o calor solitário de sempre sem se preocupar com futuro, ou o futuro de alguém. Agora nada importava, ninguém importava. Sorriu da desgraça de ter conhecido tal ser, de ter vivido e se entregado a alguém que nunca iria lhe compreender, desde o inicio pressentia isso, mas o que fazer? Disseram a ela que ela precisava de um homem, então ela arrumou um e sofreu com todas aos dores e pesares de tê-lo.

Ela estava só e pela primeira vez se sentiu feliz por isso. Passou a vida imaginando como seria ter alguém do seu lado, alguém que a amasse, alguém pra se dedicar, alguém que imploraria sua volta mas só encontrou farrapos e um resto de ser. Passou a vida acreditando que alguém a amaria, foi isso que a ensinaram, porém, no fim, somente ela se dedicou e se acabou num poço sem fundo.

Levantou, foi até a geladeira e encontrou um vinho que não lembrava de ter comprado e observou seu apartamento. Velhas caixas, plantas mortas, um ar colonial com dose de algo psicodélico. Era tudo nostálgico mesmo que tenha vivido ali por alguns meses, tudo lembrava a ele.



“se tudo me lembra a ele, então aqui não mais serei”. 

Dia seguinte estava arrumando as roupas, coisas e tudo que poderia levar que era somente seu. duas semanas depois estava em outra casa, com outros amores, outros sentidos e sensores. três semanas depois vivia em plena felicidade, alegre a desfrutar tudo de feliz. quatro semanas depois uma depressão agarrou seu coração. seis semanas depois estava com ele na velha casa, com as velhas coisas, com as velhas roupas, com os velhos sentimentos e a única certeza de que o mundo não a aceitaria só.





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