Ela
não era de toda anônima. Estava sempre presente mas nem todos lhe davam a
devida atenção, muitos a esqueciam e isso ocorria frequentemente, mas, também
ela não se achava digna de qualquer coisa. Quando tinha oportunidade de ser a
primeira, ficava calada, em seu canto, sem mostrar sua força, se é que tinha
alguma. Quando acompanhava alguma outra, fazia tudo que eles bem queriam,
imitavam seus gestos, mas, não muito para que ninguém desconfiasse que ela não
tinha personalidade.
Em
alguns dias se sentia livre, em outros se sentia aprisionada aquele grupo que
tanto cobrava. Em alguns dias dizia para si mesmo que aquilo lá era sua missão
de vida, em outros se questionava se iria viver sempre daquela forma. Todos
pareciam tão mais importante e com tantas participações especiais, tinham
tantos amigos enquanto para ela nada era tão bom, restava a ela pensar e tentar
encontrar como se enquadrar e se sentir unidade de eles, logo que sempre lhe
diziam: somos uma família!

Seguia vida, seguia sem entender
nada, seguia sempre conforme o que todos queriam. Nunca contava a ninguém sobre
seus sentimentos, afinal, todos eram tão felizes para quê atrapalhar a vida de
todos com seus problemas existências e seu anseio por não ser quem era. Porque
desabafar, gritar seus sentimentos sendo que ninguém iria entender.
Certa vez, caminha por entre os
cômodos da casa enorme que abrigava a todos percebeu que vivia sempre ali mas
não conhecia todos os lugares daquele ambiente, como todos a ignoravam e não
gostavam muito da sua presença não iriam se incomodar se ela andasse por aí.
Desceu todas as escadas, passou pela cozinha e, depois de ver tudo, e do lado
de fora, encontrou uma porta. Nunca tinha reparado nessa porta, porém, nunca
tinha ido ao lado de fora da casa, o porquê não saiba responder.
Abriu a porta, ascendeu as luzes e
de deparou com quatro pessoas sentados virado para a parede. Eram o senhor
W..., a senhora Y..., o senhor X... e o senhor Z... O lugar era estranho,
cheirava mal. Antes mesmo de perguntar o que faziam ali e não estavam com os
outros, lhe perguntaram:
- quais de
nós vai precisar dessa vez?
- De ninguém
– respondeu – na verdade estava passando por aqui, resolvi conhecer mais a casa
que por anos estou vivendo e não conhecia praticamente nada. O que fazem aqui?
Por que não estão conosco, lá em cima?
- Pobre de
nós – respondeu o Senhor Z... – o que será de nós quando descobrirem que alguém
de cima simplesmente resolveu conversar com a gente!
- Tenho medo
do que pode acontecer, não quero sofrer – disse a senhora Y...
- Calma
todos! Se ela for embora, poderemos nos livrar dos castigos – afirmou, tremulo,
o senhor X.
- Do que
estão falando? Vocês são minha família, a nossa família. Deveriam estar conosco
– respondeu com um desespero na voz.
- Querida –
começou o senhor W... – você não poderia estar aqui conosco. Vá embora antes
que você sofra.
- Só vou
embora quando me explicarem o que estar ocorrendo. Ou vocês me explicam ou eles
– nunca tinha tido tanta firmeza na voz. Eles se entreolharam e o senhor W...
começou.
- Estamos
excluídos, meu bem. Quando necessita da nossa presença vem aqui e nos chamam.
- Por que?
- Querida, um
dia estávamos todos juntos. Creio que você deve lembrar de nós, tinha nossos
quartos e nossa participação na parte de cima era constante... ao menos para
nós. A gente compreendia nosso dever, não temos o papel de protagonistas nas
histórias, mas estávamos felizes com nossa missão. Só que um dia tudo pareceu
diferente, eles começaram a tratar com indiferença a nossa participação, porém,
ainda vivíamos felizes. Depois começamos a nos questionar, a ficarmos triste
pela crueldade que nos tratavam e quando resolvemos rebater todas as maldades,
nos aprisionaram aqui e daqui só saímos quando precisam da gente.
- Eu não
posso crer – lágrimas corriam pelo seu rosto – vocês não podem ficar aqui. Olha
o estado de vocês! Estão maltratados, sem brilho, infelizes. Tenho que fazer
algo.
- Você faria?
– perguntou todos ao mesmo tempo. Uma esperança preencheu seus corações, um
brilho apareceu em seus olhos.
Ela
percebendo isso, consentiu com a cabeça. Saiu daquele recinto com toda a
coragem que possuía e talvez bem mais. Estava determinada a modificar a vida de
sua família, daqueles que tinha apreço e bons sentimentos. Quando entrou pela
casa, todos os demais estavam sentados na cozinha comendo alegremente.
De
repente uma tristeza abateu seu coração, sua voz ficou não existia mais, toda a
coragem que tinha se perdeu, suas pernas começaram a tremer, ficou branca como
nunca tinha ficado, suas mãos geladas, mas era preciso agir mesmo estando desse
jeito, era preciso gritar ao mundo o que estava ocorrendo, cobrar deles uma
ação, cobrar deles uma mudança ou ao menos uma justificativa.
-
O que te aconteceu? – perguntou a A...
-
Estou bem... Estou... com fome – respondeu.
-
Ok, então sente-se para comer, mas depois da L... ou da N... não se misture com
os outros, ok?
-
Ok.
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