Ela participava de campeonatos de UFC. Era
forte, guerreira, acreditou no inicio que poderia ganhar alguma coisa, algum
dinheiro ou reconhecimento, tinha potencial para ser resistente, pra guardar
tudo dentro de si e jogar sua raiva no momento certo.
No inicio sempre ganhava, até os outros
lutadores pediam desculpas a ela, que os desculpava de bom grado. Sua força era
reconhecida pelos demais, seu treinamento era constante, não havia um dia que
não treinasse e não havia um dia sem luta. Mas ela estava firme e forte,
acreditando que essa era sua missão, se tornar a maior lutadora.
Os sempre voltavam e enquanto ela aumentava
sua força em 10% eles viam com a força de 100 homens e mulheres juntos para lhe
destruir. Depois de um tempo, começou a perder as batalhas.
A primeira que perdeu já percebeu que algo
estava muito estranho, o papel era outro, já era ela que pedia as desculpas e,
diferentemente dela, eles não a desculpavam, não sem antes muita imploração de
sua parte. Depois da primeira derrota, rebaixamentos que nem esse foram ficando
mais recorrentes, mais difíceis de lidar, de resolver. Os golpes foram ficando
mais doloridos, cruéis, cada vez se machucava mais e seu coração batia mais
lento de tanta dor que sentia no físico e no moral.
Já não
queria ser forte, não queria lutar mas a obrigavam, dizia que tinha alguma
chance mais ela mesmo sabia que não, mas tinha um contrato assinado, uma imagem
a zelar, filhos a cuidar, sim... ela tinha filhos.
Os campeonatos eram de curtas duração, lutas
quase todo o dia. Participou de campeonatos na França, Irlanda, Brasil, EUA e qualquer
outro lugar. Quase todo dia tinha uma luta nova para participar, o prêmio?
Agora era sair viva.
Depois de sua ultima luta, com vergonha de
sua incrível derrota perante os filhos, mas com muita força de vontade perante
uma sociedade que nada faziam a não ser esperava que ela ganhasse alguma luta e
que continuasse mesmo sofrendo inúmeras derrotas , foi até aqueles que poderiam
livrá-lhe de participar dos eventos exaustivos.
- Em que posso ajudá-la? – perguntou o delegado
- Queria fazer denuncia por agressão física e moral por
parte do meu marido.
- Tem certeza que você não caiu da escada? – questionou o
delegado com um sorriso no rosto.
- Tenho.
Saiu da delegacia sem nada resolvido e com a
certeza que travaria mais uma luta naquele dia. Sua ultima luta.
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