O edifício que quero construir

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. 
Nunca se sabe qual é o defeito 
que sustenta nosso edifício inteiro
Clarice Lispector

Os meus universos, perante os últimos acontecimentos, resolveram trazer a mim essa frase da Clarice.
Durante uma parte do meu ensino médio eu simplesmente vivi Clarice Lispector. Não li nenhum livro, mas seus textos, frases, fazia todo o sentido para mim e todo dia falava dela a todas minhas amigas.

E essa frase causava uma enorme confusão em mim. Na época, interpretava que, se é perigoso se livrar dos defeitos não se deveria mudar. A lógica é que deveríamos permanecer com nossos defeitos, não importando quais sejam, pois eles formam nossa base e quem somos, e como simplesmente perder quem somos? Largá-los traria caos, problemas, instabilidade e um edifício inteiro cairia.

Que visão limitada.

Clarice está certa. Cortar nossos defeitos é um grande problema, pois eles podem está justamente no ponto crucial que forma nossa vida, nossa edifício e como nos forma como indivíduo. Mas, ao invés de imaginar que a frase dessa grande autora fazia alusão a não se modificar, a permanecer exatamente como está, hoje a vi como exatamente a frase é.
Vai destruir muita coisa você mudar, tirar de si tudo e todo que te faz mal. Vai machucar, vai sangrar e edifícios caíram perante a demolição da coluna. É dolorido sair de um mundo de ilusão, construído por nós mesmos, e perceber que o nosso erro, tão presente no nosso dia a dia e tão nosso, é motivo de sofrimento.

Quantos erros nos gerenciam.
Quantas posturas errôneas carregamos como verdade, 
por não crer em outra possibilidade.
Quantas certezas nossas são incertezas para o mundo.

Perceber nossos erros e destruí-los, sacar essa insanidade que vivemos, essa miragem que carregamos, pode e vai fazer sofrer. Principalmente em nós. Em poucos segundos nos veremos como somos e depois não existirá mais nada. Só ruínas.

Reconstruir doi 
mais que reformar,
 mas reformas não são para sempre.

E então... o que fazer... o que fazer quando tudo cai por terra, quando você percebe os erros dos outros e os seus próprios, os olhares maldosos, os preconceitos seus, as injurias profetizadas a Deus e ao próximo. O que fazer quando seu edifício cai?

Além de simplesmente olhá-lo e criar uma miragem do que era vendo pedaços de tijolo destruídos na ilusão de parede completa; além de sofrer pelo o que um dia foi, uma construção mal feita com reformas piores ainda; além d’eu fugir ao encontro de outras edifícios e chamá-los de meu, eu estou aqui: Limpando a bagunça, e começando eu mesma a reconstruir.

Minha fé em Deus se tornou a base necessária para meus dias melhores.
O otimismo, que tanto valorizei em mim, quero deixá-lo e dar um espaço maior.  
A minha força será essencial para colocar cada tijolo no lugar e dessa vez com calma.
Quero ser uma boa pedreira, marceneira, eletricista, ajudante, decoradora, jardineira, porteira ou qualquer profissão que me exija nessa empreita onde Deus é o engenheiro.


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