Now it's three in the morningAnd I'm trying to change your mindLeft you multiple missed callsUntil my message you replyWhy'd you only call me when you're high?HighArctic Monkeys

“Até imagino onde ele estava”,
pensou, “foi ao bar da Rua 27. Ele sempre vai pra lá nos sábados, faça chuva ou
faça sol.
- É o melhor bar da região,
querida. Me disse certa vez, aliás, várias vezes.”
Ela poderia enumerar cem outros
bares que seriam melhores do que o da Rua 27, ou até mais. Mas lá era o refugio
dele, o lugar em que não importava nada, ele se sentiria bem. O garçom já sabia
sua bebida favorita, o DJ já sabia as músicas que gostava de ouvir, e as
garotas já sabiam que o encontraria ali no mesmo horário de sempre.
“Com toda certeza estava usando
sua camisa social preta, desabotoada para ver uma parte da tatuagem no peitoral
que atraia os olhares de quase todas as garotas para identificar o desenho. Na
verdade, acho que sou a única mina que não correu para seus braços tatuados”
riu ao pensar nisso.
O celular tocava mais uma vez,
dessa vez se pôs a dançar com o toque que muito lhe agradava (OutKast – Hey
Ya!), talvez as três taças de vinhos, bebidas bem rápido, já estivessem fazendo
efeito. Silenciou na metade para não acordar os vizinhos de apartamento.
“Aquele desgraçado! Foi o maior
erro tê-lo conhecido. Lembro como se fosse hoje. Fui àquele maldito bar por
causa de Karla, que era totalmente apaixonada por ele. Nem era pra eu ir,
queria só comer um sanduíche além dos meus estoques de miojo... Me lembro de
todas as garotas olhando para ele, inclusive Karla que me levou para lá só para
ver se ele estava presente, como se não soubesse. Eu entrei naquele bar e por
um segundo todas as atenções foram pra mim, não era pra menos, sair de moletom
e uma blusa de frio tão surrada”, gargalhou ao lembrar-se da roupa que usava.
Ela lembrou de Karla disfarçar e
sair de perto dela para umas pessoas á direita, que pouco acreditava que era
tão intima como parecia. Sozinha, se encaminhou até o bar e pediu uma poção de
batatas-fritas, logo que era a única coisa que poderia pagar naquele lugar.
“Aí ele chegou, riu das minhas
roupas, riu da minha falta de maquiagem até da porção de batatas. Dizia que eu
era única a está naquele lugar assim.
- Não me leve a mal, longe de mim
ser um sexista e impor modos de uma mulher se vestir, mas convenhamos que não
estar nos padrões não é mesmo.” Lembrou de sua frase, lembrava exatamente dessa
frase e de como ele disse que se ela quisesse sair com ele teria que se vestir
diferente.”
Uma raiva começou a subir e tomar
conta de seu corpo, a mão que segurava a taça de vinho apertava cada vez mais
quando pensava nele. O telefone tocou de novo, sua vontade era jogar o celular
na parede, destruir.
“Eu não sei como ele consegue meu
número. Já o mudei inúmeras vezes e ele sempre consegue a porra do meu número”,
gritou em voz alta como se o culpado fosse o celular.
Calou-se.
Tanto ela como o celular.

“depois, não sei como ele
conseguiu meu número e endereço! Provavelmente Karla deve ter dado minhas
informações em troca de um pouco de atenção. Minha surpresa foi enorme ao
atender o telefone e ser ele. Mas a sua voz estava diferente, parecia ter um
cuidado com as palavras.
- você é uma garota diferente –
me disse – ninguém nunca fez aquilo comigo. Eu gostei de você. Talvez a gente
poderia sair e nos conhecer.
“Eu, boba, fui. Claro que fui.
Fazia tempo que ninguém me dava bola, não importava o quão arrumada estivesse.
Depois do último canalha na minha vida, qualquer coisa era lucro. Eu estava
carente de atenção, de carinho, não é errado querer essas coisas por mais
empoderada que sejamos, né? Eu não estava errada em sair com um cara que
claramente era um idiota.
“Mas eu sair. Uma, duas, três,
dez... várias vezes. Ele era um romântico a moda antiga, mas longe de deixar de
ser um boêmio. Isso não importava, minha carência era maior. Até o dia que
fomos a uma festa da boate mais cara que havia... Eu pensava assim, não tinha
condições de comprar uma balinha naquele lugar.
“E todo romantismo foi embora”.
Ela se serviu da quinta taça de
vinho, inconscientemente sua meta era terminar a garrafa inteira. O telefone
tocou de novo, dessa vez lagrimas percorreram pelo seu rosto, um desespero no
seu coração e na cabeça o acontecimentos dos fatos.
“Ele se drogou de alguma coisa e
queria que eu fizesse o mesmo! Idiota, me recusei, claro! Tentei ir embora,
sair daquele lugar, mas ele era mais forte do que eu. Começou a gritar, me
chamar de boba, antipática, quadrada e tantas outras palavras que me recuso
a pensar. O golpe foi forte. Doeu, ah se
doeu!”
O telefone tocou novamente.
Enxugou as lágrimas, pegou o telefone e o desligou. Um certo ar de conclusão
pairou no ar. “Ele está bêbado ou drogado. Só me liga quando está assim. Não
tem coragem de me encarar sã”
“Que bom que meu amor-próprio é
muito maior. Que me fez sair daquele lugar e não querer vê-lo. Que me fez
cortar todo tipo de amizade ou contato com ele. Ninguém merece um amor doentio,
um amor que corroi. Eu tava carente, mas não tanto assim. Eu estava amando, mas
eu aprendi a me amar acima de tudo e isso não é egoísmo! Não é egoísmo! Não
pode ser egoísmo...”
O sono voltou ao seu estado e adormeceu naquele recinto. Seus últimos pensamentos estavam ligados a mudar. Mudar de rumo, de rua, de casa, de país, de roupas, de cabelo ou qualquer coisa que o fizesse identificar ou persegui-la. Coisas que talvez não fizesse. Sua única convicção era que o amor próprio deve sempre ser maior... sempre.
instagram: @rodagiganteblog
O sono voltou ao seu estado e adormeceu naquele recinto. Seus últimos pensamentos estavam ligados a mudar. Mudar de rumo, de rua, de casa, de país, de roupas, de cabelo ou qualquer coisa que o fizesse identificar ou persegui-la. Coisas que talvez não fizesse. Sua única convicção era que o amor próprio deve sempre ser maior... sempre.
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