A minha força

(se posso indicar uma música: Todos os lugares - Versos que Compomos na Estrada)


Entre reflexões de ônibus (que são as minhas favoritas), percebo que há algum tempo eu venho pensando muito sobre a minha força. Não a do corpo físico, essa eu não tenho há muito tempo, mas a do espírito.
Sempre tive orgulho da força que eu carregava, que fazia com que eu dissesse não ao mundo e me vestisse, usasse meu cabelo, me maquiasse como eu queria. Grande bobagem. Olhando minha adolescência (e até a algum tempo atrás) eu vejo que só fui o que esperavam que eu fosse e eu, como Eduardo, respondi positivamente.
Eu erguia minha cabeça, dizia não, gritava, batia, era bruta, quase não se desculpava, lutava por seus direitos contra professores abusivos, estudava, chorava ao tirar nota baixa (escondida). Com certeza você deve estar pensando que isso era o correto. De certo modo sim, mas muita coisa se perdeu.
O meu lado humano foi deixado de lado: chorar? Nunca. Demonstração clássica de fraqueza! Dizer a alguém que eu sofria? Que eu era uma menina? NÃO!

Minha brutalidade que tantas pessoas reclamavam (e reclamam) foi a forma que eu arrumei para não sofrer com bullying, com racismo que, no fundo, eu entedia muito bem (eu sempre entendi muito bem o lugar que queriam me colocar). A brutalidade, a típica capricorniana, a não amável eram respostas a todos aqueles que queriam me silenciar.  Eu não queria ficar num pote, guardado, ignorado por dezenas de pessoas. Nesse ponto, nesse ponto a minha força foi quem me salvou. E isso eu entendo só hoje.

Mas como eu disse: muita coisa se perdeu.

Minha força me impede de escrever poesias e principalmente de dizer ao mundo que eu gosto. A minha força me impede de dançar na frente de todo mundo, sem me importar. A minha força me impede de dar minha cara a tapa, jogar minhas fotos no mundo, o meu sorriso ao mundo, por que tudo isso é uma parte de mim, sensível, amável, bonito que a brutalidade, que a definição do signo não me permite encarar com facilidade a ideia de jogar ao mundo.

Desculpa boa a do signo, não?

Não me dei o direito de chorar e sinceramente, nessa minha pouca existência, também não me permitiram. Não por parte de meus pais, tão amáveis, que guiaram a ser quem eu fosse e não ter vergonha disso.  Na minha casa, no meu lar, com a minha família eu sou a minha versão mais poética.
Só que  o mundo não.
E nesses dois últimos anos eu venho pensando sobre isso. Sobre meu papel no mundo, sobre as coisas que queira modificar. Venho pensando em quanto eu me privo, em quanto eu fui silenciada, em quanto eu preciso gritar muita coisa, mas tenho medo.
Foi muito fácil acreditar que a armadura definia o cavaleiro.
E agora estou eu, desarmada, sem proteção.

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