Crônica: Sexta-feira


Suco de uva na geladeira, alguns miojos no armário, uma louça na pia de três dias para lavar e ela na cama de moletom com muitas paranoias. Sabe lá se eram sentimentos reais ou simplesmente a menstruação que resolveu aparecer, fora do dia esperado, trazendo consigo trezentos dilemas.  
ela não estava bem.
Nesses dias preferia chocolate ao invés de almoço decente, suco de pacotinho com muita açúcar e pouca água, gritos ao invés de paciência e uma boa série para assistir. Contudo, não tinha chocolate, não tinha suco de pacotinho, nem gritos e nem serie. Não havia lhe restado nada para fazer.
Precisava de algum tipo de ânimo para viver, mas sem dinheiro, aluguel atrasado e sem refeição descente em plena sexta-feira não era algo de que ela se orgulhasse ou que lhe motivasse a grandes mudanças.
“Ao menos a playlist estava boa”, pensou antes de ouvir uma música bad e ter desistido de tal pensamento.
Nunca sabia o que fazer em dias que não tinham o menor sentido. Já havia deixado de fazer exercícios, de se alimentar bem e de dobrar as roupas.
“Ainda tem o quarto para limpar, o banheiro para lavar, o gato para alimentar e nem tem whiskas sache”, pensava enquanto se levantava.


Pra quê? Talvez para um café. “Café não, esqueci de comprar”.
Então um chá. “Chá não, acabou as cascas de laranja”.
Então tomar água. “agua gelada? Não, esqueci de encher as garrafas”.
Então para tomar longo banho. “Só se for de dois segundos, o chuveiro não estar esquentando direito, fica gelado do nada”.
Então para escovar os dentes. “tô sem pasta de dente”.
Então para ver o sol. “está chovendo”.
Então para ver a chuva. “estou sem roupa para esse evento”.
Então para se ver no espelho. “Boa, isso eu posso se não me assustar”.
Ligou a luz, olhou para si, viu o reflexo de alguém que não conhecia. “de onde apareceu essas espinhas?”. Se olhou mais uma vez e antes mesmo de querer decidir algo, voltou pra cama a dormir.


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