Crônica: Terça-feira


Ela novamente estava em seu quartel general que também pode ser chamado de quarto. Lá encontrava tudo que precisava e principalmente, muita bagunça. A roupa estava inteira para lavar, ukulele sob a cama, canetas e papeis também. Os livros num canto, sapatos pelo o chão e o questionamento de pra quê tantos saltos. Ao menos o guarda-roupa estava arrumado, ou quase.

Pequenas decisões fazia seu dia e ela, atordoada, não decidia nada. Tinha plena certeza que precisa acrescentar mais vida na sua vida, sair dessa monotonia, dessa rotina que se tornou sobreviver. A playlist estava desatualizada e já tinha perdido a lista que fizera. Já tinha perdido muitas coisas, entre elas certa paciência de entender.

Depois de tantos meses em casa, de altos em baixo, do cofre cheio e vazio e as dívidas aumentando, depois de chorar várias vezes, de se impor e de se perder, de repetir a mesma musica 30 vezes e não entender nada, ela já não sabia muita coisa do que fazer da vida.

Talvez a sua crise dos 30 anos tivesse chegado com uma certa antecedência e sempre antes de dormir.
“Ser virginiana é foda!” Pensava com uma certa revolta. Tinha se acostumado há tudo muito certo, a ter tudo pronto, tinha se acostumado com essa ideia de meritocracia crescente de que basta esforço. “e tudo que já fiz? Não contou afinal? Foi descartado como filtro de café usado?” Não tinha resposta.
Levava o conceito que lição não aprendida é lição repetida e todo dia se repetia. quando iria aprender a esperar, a ter paciência, a compreender. Tanta coisa a fazer e ela ali, fechada no seu quarto esperando que o universo conspire a seu favor.

Mas ela sabia a próxima fase. Daqui a alguns dias ficaria empolgada novamente, faria cursos, falaria de sonhos, resolveria problemas e arrumaria seu quarto. Se encantaria com novas musicas, com novas possibilidades, escreveria alguma música, escreveria algo que prestasse, leria livros e mais livros, mas agora ela se permitia somente levantar pra ir fazer o café.

Comentários