Meus medos


quando a gente é criança, fomos acostumados ao discurso de superar os nossos medos. Nos ensinaram a seguir em frente; a enfrentar o escuro; o coleguinha violento; a nota baixa.
Engolimos nossos choros quando estávamos extremamente tristes, seja por um brinquedo, briga ou bronca. Engolimos quem somos para dar lugar a uma ser "civilizado", longe de qualquer conduta questionável, o adulto que não chora, que sabe a hora de sorrir, que não exagera: nem na comida, nem na bebida, nem na roupa, nem nos sentimentos.
Contidos ou reprimidos. Escolha a palavra.
Obscurecemos quem somos por dentro, esquecemos que erramos e nos colocamos no direito de condenar o outro. A gente não era todo mundo, a gente era muita gente, a gente se perdeu e sendo bem sincero nem se sabe onde errou o caminho.

Hoje, adultos, os mesmos medos. O escuro nos faz tremer, mesmo que ele seja apenas externamente. A altura turva nossa vista, mesmo que a gente esteja sentados. A violência nos agride de todas as formas. Mas se quando crianças a gente esperneava, chorava; hoje, adultos, a gente finge que tá tudo bem. Engolimos e deixamos tudo preso na garganta.

Tá aqui preso: a lágrima e qualquer coisa que aprendi a simplesmente ignorar para responder a sociedade: eu tô bem.

Mas estamos de fato bem? Com essa pandemia infelizmente não. A gente se apoia de todas as formas, estuda, ler, reza, ora, pede... mas ainda assim doi.

Meus medos doi.

Mas não posso ignorar que tudo que ensinaram sobre segui em frente, de alguma forma funciona. Está nos mantendo aqui, a gente só precisa saber que esse "manter aqui" tem que ser saudável.

Comentários

  1. Nossos medos se materializou,nunca uma criança esteve tão gente grande...

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