de.sa.bro.char

Um texto não aparece do nada no que escrevo. É fruto de um pensamento que surge e fica remoendo dentro de mim, passeando em minha cabeça até uma hora ir para um caderno ou, neste caso, este blog. Não foi diferente com o termo desabrochar.

de.sa.bro.char Verbo.
1. Transitivo direto: abrir, desapertar.
2. transitivo direto e intransitivo e pronominal: abrir(-se), transformar(-se) [o botão] em flor

Essa palavra voltou a mim essa semana, meses depois de ler o livro de R. J Dabliu, “Mill sentidos da vida: um café com futuros economistas” que se refere a uma entrevista de Clarice Lispector. E eu fiquei pensando todo esse tempo sobre o quanto é difícil desabrochar. Deixar de ser apenas uma raiz funda para fazer aquilo que fomos destinados a fazer: florescer.

Há muito dificuldade enorme em entender quem somos e outra ainda maior em ser aquilo que vibra dentro de nós. Apesar dos lindos discursos motivacionais sobre "ser você mesmo", o mundo não quer lidar com nossas versões, por melhores que sejam.

É extremamente dolorido não deixar que sua essência se manifeste da melhor forma e ao mesmo tempo não se encaixar em nada que o mundo oferece.

O que de fato somos ou queremos ser? O que há por dentro de nós que merece florescer? Por que não cuidamos de nosso próprio jardim? Por que o desabrochar é tão reprovado pelo o mundo e por nós? Do que temos medo de encontrar?

Talvez o medo mesmo seja o não chegar em canto nenhum.

Durante o ensino médio eu tinha medo do que me tornaria, do que seria no futuro porque eu já era muita coisa, uma pessoa muito velha para a idade. Na primeira graduação foi a mesma coisa: quem eu seria quando eu me formasse, o que eu estaria fazendo, qual era o destino...

Terminei esses dois períodos olhando para o espelho e vendo a mesma versão de mim mesma, uma versão desatualizada e cansada.

E apesar d'eu acreditar está na minha versão mais atualizada e viver a idade que eu tenho, há em mim um grande medo em não conseguir chegar no destino que gostaria e ao escrever este texto eu tenho plena certeza que não chegarei.

Uma realidade triste, eu sei. Mas a cada dia se caminha um pouco e isso representa tanto em nossa vida que determinar o que será do amanhã é uma grande bobeira.

Talvez eu nem saiba, mas caso eu volte neste texto a certeza de agora é: eu estou caminhando. Estamos caminhando, então por que não aproveitar a vista?


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