Dia da Mulher Negra Latina-Americana e Caribeña.


Abrindo uma brecha entre uma tarefa e outra, pois a correria tá tão grande que só cabe trabalhar e sonhar, eu venho aqui escrever.

Pois escrever é o que está entre a correria dos trabalhos e os sonhos das noites mal dormidas, seja na cama ou em ônibus lotados.

Hoje é dia da Escritora (e do escritor) e para além desta data tão importante e significativa para mim, há outro nome para hoje - ainda maior do que eu mesma: hoje é o Dia da Mulher Negra Latina-Americana e Caribeña.

Há quem diga que datas comemorativas são meras números sem importância. Conheço gente que nem gosta de comemorar aniversário, por acreditar que marca “o fim dos dias”, e outros que ignoram datas como esta.

Não há nada para se comemorar, claro. Ser mulher e negra neste país é um atestado de óbito cravado na testa, mas além da certeza de que há um desejo desvairado de ver corpos como o meu violentados, essa é uma das poucas datas que posso chamar de minha e olhar para TODAS AQUELAS que batalharam, lutaram, morreram e morrem para que eu tenha um mínimo de vida. ELAS vão desde minha mãe, avós e irmãs, até Marielle, Tereza de Benguela, Elza Soares e tantas outras mulheres que se permitem ser elas mesmas e, consequentemente, me dão a liberdade de ser quem sou.


O triste é essa data chegar tão tarde em mim, lembro que há alguns anos (2016) uma jovem de cabelos longos e de pele negra clara me parou na rodoviária de Brasília nesta mesma data e me entregou o coração da foto. Eu sorri. Me emocionei por alguém que tão nova estava fazendo um gesto tão pequeno e que ao mesmo tempo ecoou no espaço enorme e vazio que tinha em mim. Talvez ela nem saiba que mudou meu mundo desde aquele dia, porque o ano que isso aconteceu eu estava trazendo a mim a percepção de um corpo que eu sempre tive, mas que me fizeram odiar.


Tenho sim: receios, medos, angústias por carregar a cor que condenam… Mas eu tô tão feliz e a cada mulher que eu vejo nas ruas com suas roupas e corpos, cabelos longos ou curtos, cacheados, crespos, dredados eu sinto uma enorme alegria e sinto que vamos sim vencer.

Hoje eu faço de mim um corpo político em uma existência que luta mas que quer paz, que chora mas sorri, que fala mesmo e sabe que tem hora que a gente se cala, para que, no mínimo, alguém olhar e ver que também pode ser bem mais do que o mundo te diz ser.


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