Crônicas de uma habitante - ep. 1 - sozinha


Após uma crise de ansiedade, dias quentes e quase nada de umidade no ar, fica fácil se entregar a pensamentos massivos e cansativos.
O pensamento da vez é um antigo: Eu vou morrer sozinha!

(pausa dramática)

Mas em mim há algo diferente ao ler essa frase. A Simone adolescente, com toda certeza, estaria chorando com essa constatação. A Simone de hoje está mais tranquila. 
Durante muito tempo eu pensei que o objetivo final da existência humana era simplesmente o relacionamento com o outro, seja em amizades ou com parceiros românticos. Um pensamento totalmente induzido, logo que, quando criança, os filmes nos ensinam sobre o "amor eterno". Na adolescência,  jovens estão se descobrindo e namorando - alguns tendo filhos - e a fase adulta seria a conclusão de toda uma rebeldia e agora a busca pelo "seguro", estável.

Eu fui olhar para trás e percebi um erro entre o sair dos "sonhos de princesa" para a "rebeldia e conhecimentos na adolescência", pois nesse período eu percebo que nada fiz dentro do que se esperava. Apesar de querer ser uma princesa e não ser representada pelas que eu via, quando cheguei na adolescência não houve todo esse descobrimento. Eu não tive relacionamentos, os famosos contatinhos

E quando me vi longe de tudo que todos faziam, eu resolvi envelhecer mesmo sem perceber. Aos 14 anos poderia ser comparada com uma senhora de 45. E não, não foi bom. 

Esse envelhecimento precoce me fez levar vários preconceitos e resistências que hoje começo a me libertar. A começar por sorrir em fotos, ter mais liberdade com o meu corpo e amá-lo como é. 

E o que tudo isso tem a ver com o morrer sozinha?

Apesar d'eu enxergar as claras mudanças que tive comigo nos últimos 3 anos, eu continuo vendo a jovem de 14 anos que não tinha ninguém para amá-la. 
E sempre volta esse pensamento de como minhas amigas ao meu redor tem seus contatinhos em menos de 2 minutos, bastando uma foto no Instagram, enquanto eu sigo assim, sozinha romanticamente.

Aos 26 anos não doi entender uma realidade um tanto quanto racista e cheias de padrões, mas aos 20, 14 anos doeu muito. 

Embora eu não saiba distingue se o que eu sinto é "aceitação" ou "paz", fico bem em ver um futuro morando sozinha com os 47 gatos.

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